Passei anos sonhando com a Islândia após ler “Rumo à Estação Islândia”, do Fábio Massari, livro que mescla diário de viagem, reportagem, entrevistas e notas sobre os discos pop/rock islandês dos anos 60 até os anos 2000. Nessa época eu vivia cantando Regina, do Sugarcubes, e era completamente obcecada pela Björk. Porém, demorou mais de uma década até finalmente eu entrar num avião rumo à Reykjavik.

O que me levou a decidir ir para a Islândia não foi a sua cena musical, foi ir à caça da aurora boreal. Entre todas as opções de lugares indicados para assistir tal fenômeno, a Islândia foi o que me mais me atraiu, tanto pela sua beleza inóspita, quanto pela música e pela facilidade em chegar lá (fora o sonho antigo de conhecê-la). A minha primeira ida foi em 2014 e a segunda, em 2016, ambas no inverno. Voltei e volto porque me apaixonei.
Nas duas vezes em que estive na Islândia foi no mês de fevereiro, quando os dias já não são tão curtos. A sorte foi tão grande, que nas duas vezes que fui, eu vi aurora boreal na escala 9 (de 0 a 9, ou seja, uma tempestade) em Vik, no sul do país. O coração pulou na boca tamanho foi a emoção que senti. Mas vi também aparições mais tímidas, em que apenas faixas esverdeadas cruzavam o céu.

Na Islândia as dançantes luzes do norte costumam estrear suas aparições ainda em setembro, uma das primeiras a aparecerem no mundo, e seguem animadas até abril. Mas a dica mais importante para quem revira os olhos só de pensar em caçar aurora boreal é: ela pode não aparecer, por isso o ideal é combinar uma viagem com outros atrativos e a Islândia atende bem este quesito.
Por que a Islândia?


Não conheço uma pessoa sequer que não a tenha na sua bucket
Os que foram, querem voltar. A Islândia é um país espetaculoso. Tem sol da meia-noite no verão, praias de areia negra, glaciares, gêiseres cuspindo água o tempo todo, vulcões ativos, cavernas de gelo, cachoeiras de 240 metros de altura, mergulho entre dois continentes, piscinas naturais com água quente no meio do nada e uma agitada vida cultural na capital, com bons festivais de música e arte ao longo do ano. É o destino perfeito para quem ama natureza.
Preparando a viagem
O jeito mais fácil para chegar em Reykjavik, capital da Islândia, partindo do Brasil, é via Nova York ou Londres. Quem quiser ir para caçar aurora boreal, a época é entre setembro e abril, sendo que o período entre novembro e fevereiro é o melhor, justamente por ser mais escuro. Eu, particularmente, aposto em novembro e fevereiro, já que dezembro e janeiro são os meses com os dias mais curtos e aí aproveita-se menos o país, já que os passeios mais legais pedem a luz do dia para acontecerem.

O melhor jeito para explorar a Islândia é de carro. No inverno é imprescindível um 4×4, que vai te levar para qualquer lugar. Alguns passeios, como visita à cavernas de gelo (apenas no inverno), entrar num vulcão (só no verão) e a Blue Lagoon, pedem reservas com antecedência. Para quem não dirige, o jeito é fechar pacotes ou tentar um carpool.
Ter um mapa à mão é muito importante, mesmo que seja o Google Maps aliado a um chip 4G, especialmente durante o inverno quando algumas estradas podem estar interditadas. É imprescindível consultar sempre as condições delas antes de sentar ao volante.Para acompanhar as previsões de aurora boreal, é só se manter conectado aqui. É fácil comprar um chip, tanto no aeroporto quanto no próprio voo. O sinal funciona bem na maior parte do país.
O que levar

Casaco quente, preferencialmente impermeável, tem que ter na mala, assim como uma boa bota, também impermeável, para fazer longas caminhadas no gelo ou mesmo nas praias. Independente da época do ano, o frio costuma estar sempre presente. Não esqueça de levar uma roupa de banho. Sempre haverá boas oportunidades para um mergulho. Não se deixe levar pelo frio, pois a água quente dá conta disso e te aquece.

Para quem estiver de carro, tenha sempre comidinhas e água no carro, pois é raro encontrar lugares para comer na estrada. Como álcool é algo muito caro na Islândia, comprar garrafas de vinho para aquecer as noites é uma boa ideia. Garrafa de água descartável não é bem-visto na Islândia, afinal o país é uma ilha e há uma preocupação grande com o lixo. Leve sua própria garrafa não descartável ou um squeeze, abastecendo onde estiver hospedado e carregar com você. A água da torneira é potável, mesmo quando vem acompanhada do cheiro de enxofre.
Quanto tempo ficar
O ideal é ficar pelo menos uma semana, pois nesse período é possível explorar o sul do país, que guarda alguns dos lugares mais bonitos da Islândia (e do mundo), e pelo menos dois dias em Reykjavik. Se puder ficar mais, fica, pois nunca será demais.
O que visitar
A lista de lugares para visitar é imensa. O roteiro varia muito de acordo com a época do ano, se está de carro ou se vai depender de ônibus com tours guiados.


O Golden Circle, a atração mais próxima à Reykjavik, começa no Thingvellir National Park, onde foi fundado o primeiro parlamento do mundo, em 930. Para os mergulhadores, a parada obrigatória é Silfra, uma fissura no meio de duas placas tectônicas que dividem os continentes América do Norte e Europa. É possível mergulhar com até 100 metros de visibilidade, mas o passeio deve ser contratado com boa antecedência.




Nesta região há a bela cratera vulcânica Kerið, onde a Björk fez um show em 1987; e o famoso Geysir, que deu o nome aos demais, mas que hoje já não está mais em atividade. Ali a atração mesmo é o Strokkur, que jorra água até 40 metros de altura. No fim do Golden Circle se encontra a impressionante catarata Gullfoss, com quedas de 11 metros, depois 21 metros até cair numa fenda de 32 metros. No inverno ela congela e fica ainda mais bonita.




O sul do país é onde se concentram as principais atrações. Dyrhólaey com suas formações rochosas únicas; Seljavallalaug, uma piscina pública construída em 1923 com água vinda de uma fonte termal; Vik, charmoso vilarejo com menos de 400 habitantes, conhecido por suas belas praias de areia negra. Reynisfjara é mais impressionante delas com suas colunas de basalto, formações de lava e falésias; o lago glacial Jökulsárlón; as diversas cachoeiras próximas à estrada principal, como a Seljalandsfoss e Skógafoss; e até mesmo um avião que caiu em 1973 próximo a uma praia e está lá desde então no meio de suas areias negras.

Quem quiser se aventurar pelas locações de Game Of Thrones, precisa ir para o norte, como o Lago Myvatn, Grjótagjá Cave e Godafoss.
E a aurora boreal?
Existem tours específicos para caçá-las, que levam para lugares mais remotos. Eu fiz tudo por conta própria e contei com a sorte. Para isso eu grudei no app das auroras consultando-o diariamente. Quando a previsão era dela aparecer, eu pegava o carro e dirigia para as praias próximas de onde eu estava.

Eu me hospedei por uma noite no (incrível) Ion Adventure Hotel, que fica atrás do Thingvellir Park, no meio do nada. Ou seja, em dias de auroras boreais, o lugar é perfeito para assisti-las, inclusive de dentro de uma piscina. Foi lá que vi a minha primeira aurorinha.
Reykjavik, por ser muito iluminada, não é adequada para vê-las. Por isso viajar para o sul do país é uma ótima opção, já que a escuridão reina por lá. Vik é um boa base para se hospedar, pois além de ter muita coisa para explorar em volta, à noite dá para dirigir até Reynisfjara caso a previsão seja positiva. Eu peguei uma tempestade de aurora boreal em que pude assisti-las da janela do quarto do meu hotel.
foto: https://unsplash.com/photos/w504XUUximQ
Quem tiver mais tempo no país e decida viajar para o norte, as chances são ainda maiores de vê-las por lá. No dia 21 de dezembro tem o equinócio do inverno, quando a escuridão dura 22 horas nesta parte da Islândia, o que traz boas possibilidades para os caçadores de auroras. Westfjords é considerado um dos melhores lugares do país para vê-las.
É possível, em alguns hotéis, pedir para ligar no quarto caso as auroras boreais apareçam na madrugada. Eu fiz isso e funcionou, mas é um auê para colocar a roupa, sair correndo a tempo de vê-las.
Rola perrengue?
O turismo cresceu desenfreado na Islândia. A Islândia tem uma população de pouco mais de 300 mil habitantes, mas prevê receber 2 milhões de turistas até o fim de 2017, o que tem tornado tudo muito concorrido. Ainda assim é possível visitar lugares em que você será a única pessoa neles.

As principais atrações do país são relacionadas à natureza, ou seja, não há pagamento de entrada para quase nada e raramente se vê alguém responsável por aquele lugar. Colocaram algumas regras e limites (cercas, placas e campanhas de conscientização), para que a flora e fauna sejam respeitadas, mas muitos turistas não ligam para isso.
É preciso estar atento, pois há perigos. O mar é bravo, o tempo é imprevisível, venta demais, as geleiras se partem, há fendas entre elas e acidentes tem acontecido no país por descuido das pessoas.
Durante o inverno pode ser difícil dirigir pelas estradas em caso de tempestade, quando elas ficam extremamente escorregadias.
O que fazer em Reykjavik


A capital esbanja charme. A Harpa, a opera house, é o berço da maioria dos festivais de música que acontecem na Islândia. A iluminação, inspirada nas cores das auroras boreais, foi criada por Olafur Eliasson. Próximo a ela se escondem dois lugares deliciosos: o Saegreifinn, que ficou famoso por sua sopa de lagosta e pratos com frutos do mar; e uma hamburgueria, Hamborgarabúllan, que tem ótima trilha sonora e um suculento hambúrguer. À noite não deixe de conhecer o Tapas Bar, que apresenta um mix de pratos internacionais com uma boa dose de sabor islandês. Para apaixonados por café, o Reykjavik Roasters é parada obrigatória.

Tome um brunch no badalado The Laundromat Cafe e visite a biblioteca local, Borgarbórkasafn Reykjavíkur, que tem um andar dedicado à música. Falando em música, a melhor loja para comprar vinil na cidade é a Lucky Records

O melhor lugar para terminar a noite numa das pistas mais animadas de Reykjavik, é o Kaffibarinn, onde eu dei sorte de ver um dos integrantes do Gus Gus discotecando. Por lá a cerveja gelada e a música boa são garantidas. O Kex Hostel, além de ser uma ótima opção de hospedagem na cidade, oferece uma programação variada mesmo para quem não está hospedado por lá.


Para conhecer e se aprofundar mais na história da Islândia e nas suas maravilhas, visite o Perlan Museum, que abriu suas portas em junho. O museu está preparando uma exposição sobre auroras boreais para o próximo ano. A icônica igreja Hallgrimskirkja, além de ser um belo projeto arquitetônico remetendo às lavas de vulcão, oferece uma vista única da cidade a partir de sua torre.
Procure por uma piscina pública para relaxar e entrar no clima islandês, programa que eles não abrem mão.

A minha sugestão para a Blue Lagoon é deixá-la para o último dia de viagem, já que ela fica próxima ao aeroporto. É um ótimo jeito de relaxar antes de embarcar no voo de volta. Caso o voo seja pela manhã, se dê ao luxo de dormir num hotel nas proximidades.
Fiz um mapa para quem se aventurar por uma road trip completa pelo país com os pontos mais legais para explorar. A volta completa na Islândia é feita em 1.332 quilômetros pela Ring Road, a estrada principal. Não se iluda achando que é rápido fazer este rolê, pois são tantas maravilhas no caminho, que uma semana pode ser pouco. Quinze dias podem ser perfeitos para esta viagem.
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